Hoje tímido, procurador criticou duramente Dilma e Temer
Há uma articulação de bastidor em Brasília para que Deltan Dallagnol seja indicado procurador-geral da República em setembro, substituindo Raquel Dodge.
Procurador da República e estrela da Lava Jato, Dallagnol tem adotado tom menos crítico em relação ao governo Bolsonaro do que aquele que usava em relação às administrações Dilma e Temer.
A ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) faz uma eleição interna e apresenta lista tríplice ao presidente da República.
Nos bastidores do governo Bolsonaro, há simpatia por Dallagnol, quem tem sido econômico ao falar do caso Flávio Bolsonaro-Fabrício Queiroz.
Bolsonaro tende a não reconduzir Dodge. Se o hoje tímido Dallagnol disputar a eleição interna e ficar entre os três mais votados, terá legitimidade da categoria para assumir o comando do Ministério Público Federal.
Mas integrantes da gestão Bolsonaro dizem que o presidente poderia nomear Dallagnol mesmo se ele ficar fora da lista tríplice. Sergio Moro, ministro da Justiça, é o maior padrinho dessa possível indicação.
Nos governos Lula e Dilma, foi indicado o mais votado da lista, como forma de prestigiar a autonomia do MP. A gestão Temer optou pela segunda colocada, por entender que o primeiro da lista, Nicolao Dino, era muito ligado ao então procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Bolsonaro já deu a entender que pode não seguir o critério de seus três antecessores.
* * *
Ao temer atos políticos, democracias começam a morrer
Quem aplaude crueldade contra Lula pode ser vítima amanhã
Ao temer atos políticos, as democracias começam a morrer. O teatro protelatório da Justiça e da Polícia Federal para impedir Lula de velar e sepultar o irmão Vavá é um precedente perigoso que mancha a democracia brasileira.
Aqueles que aplaudem hoje a crueldade contra o ex-presidente podem ser vítimas no futuro de uma ação persecutória do mesmo tipo. O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, autorizou Lula a encontrar familiares e, eventualmente, o corpo do irmão numa unidade militar minutos antes de Vavá ser enterrado.
Isso é um absurdo, sobretudo se for levado em conta que a ditadura militar de 1964 permitiu, tempestivamente, a saída de Lula da prisão para comparecer ao velório e sepultamento da mãe, dona Lindu. A Justiça adotou procedimento protelatório para evitar contato de Lula com a imprensa, amigos e militantes do PT.
Será que a democracia brasileira é tão frágil que não pode ouvir o que Lula tem a dizer à imprensa? Ou será alquebrada por manifestações de militantes petistas num velório?
Há interesse público e histórico numa entrevista de Lula. Todos os jornalistas deveriam estar disputando esse furo. Mas parece que Lula morreu, não pode abrir a boca, não deve ser visto, precisa ser esquecido, é assunto proibido no debate público…
Não me parece que Lula seja tão perigoso assim. Ou será?
Na Antiguidade, havia tréguas para recolher mortos em batalha e permitir que parentes e amigos pranteassem entes queridos. No Brasil de 2018, isso não é possível. Tem algo errado rolando por aqui.