Em agosto de 1945, os EUA foram o primeiro e único país do mundo a usar força nuclear contra outro país. Hiroshima e Nagasaki mudaram todas as teorias de política internacional para todo sempre.
A URSS não possuía armas nucleares até então, mas seu serviço secreto (KGB) estava muito à frente de qualquer outro no mundo e providenciou para Stalin informações mais precisas sobre o Projeto Manhattan do que tinha a sua disposição Harry Truman, alçado à condição de presidente dos EUA após a morte de Roosevelt.
Truman avisou Stalin da utilização de "uma nova e devastadora arma" contra o Japão, aconselhado por seus diplomatas próximos a manter a URSS na condição de aliado e assim evitar uma corrida armamentista.
Stalin já sabia dos resultados dos experimentos nucleares em Los Álamos, e sabia também que os EUA não tinham dispositivos nucleares suficientes para vencer uma guerra contra a União Soviética. Nos cálculos de Stalin, cinco ou seis grandes cidades soviéticas seriam devastadas, mas, a partir daí, a vantagem estratégica estaria à disposição dos russos, em função de sua proximidade com a Europa e vantagem numérica.
De qualquer forma, Stalin acreditava que era necessário, o quanto antes, que o mundo comunista desenvolvesse armamento nuclear. A necessidade não se travestia de força para ataque ou conquista, mas pura dissuasão. Mais tarde, Mao Zedong chamaria o poderio nuclear americano de "tigre de papel", lembrando que as armas nucleares não se prestavam a qualquer forma de conquista, e se unia a Stalin na racional e estratégica desconsideração das armas nucleares para os cálculos políticos.
Enquanto o objetivo não fosse ataque aberto de uma nação sobre a outra, as armas nucleares pouco contribuiriam para os cálculos de disputa política.
A busca por Stalin do desenvolvimento nuclear chegaria ao fim em 1949 e, mesmo assim, a URSS não teve qualquer força dissuasória até 1953, quando desenvolve meios de retaliar o território americano. Em verdade, o escudo nuclear, o poder da MAD (mutually assured destruction) só chega à URSS após a morte de Stalin. Indiferente a este fato, a propaganda americana na guerra fria escreveu que foi Stalin que, ao perseguir o controle dos armamentos nucleares, teria iniciado uma política agressiva e expansionista.
Um argumento falho que embalou gerações. Uma propaganda política travestida de "ciência" que contribuiu para a Guerra Fria. Sessenta e cinco anos depois da morte de Stalin, Trump e Kim Jong-Un mostram que ele estava certo. As armas nucleares da Coréia do Norte, sem nunca terem sido usadas ou mencionadas como forma de ataque, dobram a maior potência militar e econômica do planeta.
O aperto de mão de Trump e Un dá inconteste razão ao antigo líder soviético: qualquer coexistência com o capitalismo tem que se dar primeiramente baseado na força e não nas promessas de respeito, soberania ou liberdade que a falsa ética capitalista repete incessantemente em forma de propaganda.
Fernando Horta
No Esquerda Caviar