Sim, é chocante ver trabalhadores defendendo um golpe militar.
Mas a deseducação política não faz com que deixem de ser trabalhadores.
É necessário entender o que "intervenção militar" aciona no imaginário deles. É necessário entender qual o sentido que atribuem a este slogan. É necessário entender porque algumas categorias, sobretudo aquelas que cultivam um etos masculinista, são tão seduzidas por bravatas autoritárias. É necessário entender porque a insatisfação generalizada com o atual estado de coisas pode levar a uma opção pela direita.
Sobretudo, é necessário agir no sentido de mostrar, aos caminhoneiros e à sociedade, que o culpado pela crise não é "o Estado" com seus impostos, muito menos que a solução se alcança com menos democracia. Neste sentido, os petroleiros, uma vez mais, estão sendo imprescindíveis.
De resto, convém parar de evocar o golpe no Chile. Primeiro porque, como muitos estão lembrando, Temer não é Allende. Mas sobretudo porque militares não dão golpe por causa de greve de caminhoneiros. Uma greve no transporte de cargas pode ser deflagrada como parte de uma trama golpista envolvendo as forças armadas, o que é diferente. No caso brasileiro, ao menos por enquanto, falta demonstrar a existência desta trama com evidências que vão além da simples paranoia.
Luis Felipe Miguel
No Esquerda Caviar