O mais novo mito das eleições municipais de 2012 informa que
tivemos um alto número de brancos, nulos e abstenções. Até a presidente
do TSE, Carmen Lucia, se disse preocupada com isso.
Como também tivemos um alto número de votos a favor dos candidatos do
PT — partido que mais cresceu entre os grandes, tornou-se lider
nacional de votos, além de levar o troféu maior que é São Paulo — é
fácil imaginar que há muita gente associando uma coisa a outra. Assim:
baixa participação popular, alta votação para o partido de Lula. Nós
sabemos aonde essa turma quer chegar, certo?
Querem dizer que a população está se cansando de votar.
Ainda bem que existem repórteres interessados em descobrir a verdade
por baixo das aparências e do senso comum. Roldão Arruda revela, no
Estado de hoje, que o problema não está na vontade de votar — mas no
registro eleitoral. Em cidades onde o cadastro eleitoral não é
atualizado, a contabilidade das ausências produz números maiores. Uma
consulta a votação nas capitais mostra isso. Em cidades como São Paulo e
São Luiz, onde o cadastro não é atualizado há mais de 20 anos, a
abstenção bateu em 20% entre os paulistanos e chegou a 22% entre os
moradores da capital do Maranhão. Já em Curitiba, onde o cadastro foi
feito há um ano, a abstenção fica em 10%. Os cadastros velhos mantém
como eleitores aqueles cidadãos que já morreram, que se mudaram, que já
não tem obrigação de votar. “Se todos os eleitores forem recadastrados, a
abstenção tende a cair para 10%, soma razoável de pessoas doentes, que
viajaram ou que tem mais de 70 anos e não querem mais votar,” afirma
Jairo Nicolau, um dos mais respeitados estudiosos do comportamento do
eleitor.
A má interpretação dos abstenções animou a turma que combate o voto
obrigatório e prentende instituir o voto facultativo. Há bons argumentos
a favor de uma coisa ou de outra mas é bom lembrar que a distribuição
renda favorece o voto facultativo. Ou seja: nos países onde o voto é
facultativo, há uma proporção maior de ricos que comparecem às urnas,
por motivos fáceis de explicar. A pessoa tem mais recursos, mais tempo
livre, mais facilidades de locomoção, mais facilidade para deixar o
trabalho e exercer o direito de escolher o governante. Imagine o voto
facultativo no interior de um estado pobre, dominado por nossos
coronéis. Bastaria suspender o transporte nos bairros adversários para
se ganhar uma eleicão, não é mesmo?
Paulo Moreira LeiteNo Vamos combinar